FADO de COIMBRA


Alguns chamam-lhe “Fado de Coimbra”, outros “Canção de Coimbra”, “ Serenata Coimbrã”, “Balada de Coimbra”, “Fado-canção”, etc . Mas que género musical será este? 

Nas palavras de Francisco Faria é uma “canção terna, docemente saudosista, mas jovem no seu vigor, no idealismo das atitudes, na esperança de um amor realizável que se oferece, ao mesmo tempo espontâneo e elaborado, de melodia bem contornada e, simultaneamente, um pouco rebuscada e, por vezes, patente”[1]. Esta caracteriza-se por um “estilo vocal próprio: sério, elegíaco, lírico, docemente apaixonado sem objeto...”[2] e tem a sua expressão máxima nas serenatas, quer sejam realizadas por estudantes ou por “futricas” ( população conimbricense que não era estudante). No final do século XIX e início do século XX aparecem muitas notícias na imprensa que dão conta de “serenatas fluviais” organizadas pela população de Coimbra[3]. 

No que diz respeito às origens sabe-se que os estudantes sempre tiveram gosto de cantar durante a noite nas ruas. Em 1537, após a transferência definitiva da Universidade para Coimbra, os cantares noturnos dos estudantes foram alvo de algumas providências repressivas por parte de D. João III[4]. Existe uma carta de 1539 enviada pelo monarca ao reitor, na qual constam as regras que o meirinho devia seguir para acabar com alguns comportamentos menos próprios dos estudantes, tais como cantar de noite pelas ruas da cidade[5]. Mas não só os estudantes tinham hábitos musicais na cidade de Coimbra. Os habitantes da Urbe tinham as suas canções e festividades próprias, entre as quais se destacam as relacionadas com os santos populares, Santo António, São João e São Pedro, e com a padroeira da cidade, a Rainha Santa Isabel. Nestas festas, os estudantes participavam juntamente com a população. Eram muito apreciadas as famosas fogueiras de São João, encontrando-se diversas notícias a seu respeito durante o século XIX[6][7]. 

Para Luís Pedro Castela ( 2012) é da confluência da cultura musical da Academia com a cultura musical tradicional dos habitantes de Coimbra que surge o que chamamos agora de “Fado de Coimbra” ou “Canção de Coimbra”. 

As serenatas mais típicas são as de rua e têm como objetivo cortejar uma rapariga. Outro local privilegiado para serenatas é a Sé Velha. Considerada a «catedral do canto coimbrão», recebe as celebrações dos grandes acontecimentos da vida académica, no seu portal realizam-se as serenatas monumentais[8]. Antes do aparecimento de «escolas» de ensino da guitarra e do fado de Coimbra, predominava o autodidatismo e a aprendizagem através da transmissão familiar. 

Com o advento da rádio, em 1947, foi transmitida a primeira serenata em direto, pelo emissor regional de Coimbra. Em 1957 a televisão aparece em Portugal e, no mesmo ano, a RTP transmite em direto uma serenata de Coimbra, realizada nos estúdios do Lumiar[9].

Miriam Rocha 
Fevereiro de 2019 



Referências Bibliográficas

Borges, Nelson Correia ( 1987). Coimbra e Região. Lisboa: Editorial Presença.
Castela, Luís Pedro Ribeiro(2011). A guitarra portuguesa e a canção de Coimbra. Subsídios para o seu estudo e a sua contextualização.( Dissertação de Mestrado). Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
Faria, Francisco (1980).Fado de Coimbra ou serenata coimbrã? . Coimbra: Comissão Municipal de Turismo.
Rocha, Miriam (2012) O Museu Municipal de Coimbra. Contributo para o programa museológico do núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. ( Relatório de Estágio, não publicado , para obter o grau de Mestre).Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
Vouga, Vera Lúcia( 1991). Na galáxia sonora: sobre o fado de Coimbra. Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literaturas, Série II, 8,47-62.



[1] Faria, Francisco (1980).Fado de Coimbra ou serenata coimbrã? . Coimbra: Comissão Municipal de Turismo.
[2] Vouga, Vera Lúcia( 1991). Na galáxia sonora: sobre o fado de Coimbra. Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literaturas, Série II, 8,47-62.
[3] Rocha, Miriam (2012) O Museu Municipal de Coimbra. Contributo para o programa museológico do núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. ( Relatório de Estágio, não publicado , para obter o grau de Mestre).Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
[4] Borges, Nelson Correia ( 1987). Coimbra e Região. Lisboa: Editorial Presença.
[5] Castela, Luís Pedro Ribeiro(2011). A guitarra portuguesa e a canção de Coimbra. Subsídios para o seu estudo e a sua contextualização.( Dissertação de Mestrado). Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
[6] Castela, Luís Pedro Ribeiro(2011). A guitarra portuguesa e a canção de Coimbra. Subsídios para o seu estudo e a sua contextualização.( Dissertação de Mestrado). Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
[7] Rocha, Miriam (2012) O Museu Municipal de Coimbra. Contributo para o programa museológico do núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. ( Relatório de Estágio, não publicado , para obter o grau de Mestre).Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
[8] Rocha, Miriam (2012) O Museu Municipal de Coimbra. Contributo para o programa museológico do núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. ( Relatório de Estágio, não publicado , para obter o grau de Mestre).Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal.
[9] Niza, José ( 1999) Fado de Coimbra II. Amadora: Ediclube.

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