A PORTA FÉRREA


A entrada, nos Paços Reais de Coimbra, era bem diferente do que hoje vemos. E, certamente por não se coadunar com o edifício: «No Conselho de 13 de Janeiro de 1595 se assentou que por estar indecente a porta primeira do Terreiro da Universidade se mandasse fazer hum portal novo e humas portas novas, como convem a tal lugar.»

Sôbre a porta de entrada do terreiro dos paços, no tempo de D. João III, deve ter havido um relógio, como prescreve a carta de 19 de dezembro de 1539. (Prof Mário Brandão, Documentos, etc, vol I, pág 230).

A obra de engrandecimento dos edifícios da Universidade não é de hoje nem de ontem. Já em 20 de Maio de 1557 D. João III determinava que não se aforassem nem se dessem os chãos em torno aos paços reais de Coimbra e que neles se construissem edificios. Essa visão da cidade universitária, durante muito tempo em pensamento parece que vai entrar em intensa atividade. Uma comissão executiva está em exercício sob a presidência do Vice-Reitor Prof. Doutor Maximino Correia.

Analisando a Porta Férrea notamos as suas colunas de ordem coríntia. êste portal tem duas fases iguais, desde o século XVII, época em que foi construído, substituindo uma antiga porta do Paço medieval, entre cubêlos, sita no Mesmo lugar. «Os cubelos fortificados que a flanqueavam» foram demolidos (Prof. Doutor Vergílio Ferreira, Diário de Coimbra, 6 de dezembro de 1932).
Então, a parede, em que assentava o portal, era baixa, pois desterminava-se no contrato assinado em 1933 que devia subir a igualar com o telhado da capela do Colégio de S. Pedro (Prof. Doutor Vergílio Correia, Obras antigas da universidade, pág 26).
O desenho e traça para as obras dos arcos e portas da Universidade devem-se ao arquiteto António Tavares (pagou-se em 24 de dezembro de 1963, a importância de 8000$00, Obras Antigas da Universidade, pág 31 e 32 do Prof Doutor Vergílio Correia), e a construção ao mesmo mestre empreiteiro Isidro Manuel, em 1634 (data inscrita no pórtico, bem como na grade do portão se lê a de 1640), no reitorado de D. Alvaro da Costa.
Neste portal duplo com colunas «estriadas, assentes em bases de vistoso lavor» vêem-se, em seus nichos, figuras simbólicas do escultor Manuel de Sousa; essas estátuas com insígnias e devisas alusivas às 4 Faculdades maiores da época:
Medicina e Leis no portal com frente para a Rua Larga (antigamente Rua Infante) com as suas insígnias, respectivamente, na primeira, colar ao pescoço, livros na mão esquerda; e, na segunda, espada na mão direita, balança e livros na mão esquerda.
Teologia e Cânones na fachada interior, voltada para o terreiro, respetivamente Cruz e Bíblia (Sagrada Escritura- Evangelhos) na mão esquerda; e, na segunda estátua, teara e chaves na mão esquerda.
Nos nichos do entablamento encontram-se, também estátuas, com coroas, de dois reis portugueses, exterior D. Dinis, fundador dos Estudos Gerais, e do outro, a de D. João ÎII, reformador da Universidade.
(...)
A Porta Férrea está coroada nas duas fachadas por emblemas da Sapiência. Cada uma dessas sabedorias é representada por uma figura feminina, com coronel na cabeça, vestida de túnicas, tendo como atributos: aos pés, o mocho (ave vigilante durante o silêncio da noite, avisando, com o seu pio plangente, de qualquer facto anormal- é pois simbolo de estudo, das vigílias, da meditação) e a joeira ou crivo (utensílio que separa o trigo do joio; simbolo da crítica seleccionada, isto é, separa o verdadeiro do falso); na mão esquerda encontra-se o cetro da soberania, rematado pela esfera armilar (instrumento de estudo, simbólico das chamadas ciências nobres- muito da simpatia de D. Manuel, o rei Venturoso); e na dextra um livro aberto. Ainda nos pés se encontravam livros representando as ciências humanas.
(...)
A Porta Férrea, segundo o Prof. Vergílio Correia, é uma composição interessantíssima de arquitectura civil, de tradição renascentista e a passagem abobadada- o arquo de abobada lavrada e brincada- em pedra de Ançâ, que fica entre esta porta dupla, bem pode considerar-se um verdadeiro arco do triunfo.

De Universidade de Coimbra, Edifícios de Corpo Central e Casa dos Melos, de José Ramos Bandeira, 1943


                                                                                   Foto de Vitor Murta





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