Os reis ausentes na Sala dos Capelos

1640, o ano no qual os “Quarenta Conjurados” planearam e consumaram a conspiração que, a 1 de dezembro, restaurou a independência de Portugal sob a égide de D. João IV, o duque de Bragança. Durante as três décadas seguintes foram travados uma série de confrontos armados entre o reino de Portugal e a Coroa de Castela, os quais culminaram com a vitória decisiva de Portugal e à obrigação, por parte do seu vizinho ibérico, ao reconhecimento oficial da soberania portuguesa, a par das suas possessões coloniais. Durante todo o processo restaurador, a causa portuguesa contou com apoios vindos não só do estrangeiro, mas também de todos os estratos da própria sociedade portuguesa. Entre as diversas personalidades que deram voz a esta causa, destacamos a figura de D. Manuel de Saldanha o qual, a par de ter exercido as funções de reitor da Universidade de Coimbra (1639-1659), comandou, enquanto general, as forças académicas nos teatros de guerra ibéricos. 

A D. Manuel de Saldanha se ficou, de igual forma, a dever a remodelação da antiga sala do trono do palácio real, a atual Sala dos Capelos. Guiado por um ideal de afirmação e consolidação da identidade nacional o novo reitor procurou alcançar tal fim através do recurso a elementos ornamentais elucidativos do período anterior à perda da soberania. Exemplo disso é a aplicação de um cordão em talha dourada, que delimita cada um dos caixotões  presentes no teto da sala, bem como a própria pintura destes que denota características que procuravam ir contra a estética real filipina. 



No entanto, no conjunto decorativo da Sala dos Capelos, os elementos que mais se destacam são os retratos dos trinta e um monarcas portugueses. De Afonso Henriques a D. João IV, todos os retratos são da autoria do dinamarquês Carlos Falch. Daí em diante, até D. Manuel II, os retratos foram pintados à medida que os monarcas se iam sucedendo. 

Fruto do acérrimo patriotismo de D. Manuel de Saldanha, aos Filipes de Espanha, que governaram Portugal entre 1580 e 1640, não foi concedida a mesma honra, uma vez que estes não eram vistos como monarcas legítimos, mas sim como usurpadores do poder real. Assim se explica a sua ausência do rol de retratos daqueles que, por 767 anos, governaram Portugal. 


De Gustavo Gonçalves
01 de Abril, 2019


Comentários

  1. Muito bom, fiquei com muita vontade de visitar a universidade e em particular a sala dos Capelos. Excelente artigo!

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