A CAPELA REAL DE S. MIGUEL 



Remonta aos inícios da nacionalidade portuguesa a fundação da capela real de S. Miguel nos paços da Alcaçova em Coimbra. Assentando nesta cidade a sua residência habitual, el-rei D. Afonso Henriques erigiu no seu próprio palácio uma capela, onde quotidianamente se celebrasse o sacrifício eucarístico, e se recitassem privadamente as horas canónicas, para satisfação da piedade de el-rei e da régia família. (...)

Grande era a devoção que o fundador da monarquia portuguesa tributava ao arcangélico príncipe da milícia celeste, em cuja proteção muito confiava.
Edificando a igreja do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a ele fez consagrar a primeira das capelas laterais da nave da Epístola; em sua honra também erigiu capelas na igreja da Alcáçova de Santarém, e em Santa Maria de Alcobaça; fundou finalmente a notável ordem militar de S. Miguel da Ala, que em breve desapareceu, e cuja memória escassa ficou envolvida em denso nevoeiro de lendas.
Desde então os nossos reis e o povo português ficaram considerando o arcanjo S. Miguel como espírito tutelar, que vigia, protege e defende esta nação. (...)




Durante os primeiros reinados conservou-se em Coimbra a sede habitual da corte, e na capela real de S. Miguel manteve-se regularmente o culto.
Era nela que os nossos reis, e as pessoas das suas famílias, satisfaziam os seus deveres religiosos; a ela iam frequentemente implorar do céu a proteção e auxílio para as suas empresas e cometimentos bélicos. (...) 
Capela frequentada pela austera, adorável, virtuosíssima e muito popular esposa de D. Dinis, a rainha Santa Isabel, que nela recebia a sagrada comunhão das mãos do seu capelão Mestre Gonçalo, e assiduamente aqui viria suplicar graças e agradecer favores, cobrar alentos e desabafar mágoas, solicitar caritativamente perdões divinos e formar devotamente propósitos santos, pondo toda feuza em nosso Senhor Jesu Christo, & na Virgem Santa Maria sa Madre, & na Corte Celestial (declaração feita pela rainha Santa Isabel a 8 de Janeiro era 1363, logo depois da morte de D. Dinis) particularmente no príncipe da milícia angélica, em cuja honra se erguera este santuário!
Que variedade de impressionantes recordações que nos traz à imaginação esta antiga e nobre capela real de S. Miguel do paço dos nossos primeiros reis!
(...)

do livro Real Capela da Universidade, de Dr. António de Vanconcelos

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