O TEMPO DA UNIVERSIDADE… ...tem mais do que um modo. Primeiro, é o tempo curto, que se mede em anos, das tarefas quotidianas que preenchem a vida do estudante: o sino do relógio que toca para as lições (às sete e meia até domingo de ramos, às seis e meia, daí em diante), meio quarto de hora depois dos campanários da cidade, o assueto a meio da semana, a leitura do professor que é preciso captar e fixar por escrito na apostila, o ir à feira comprar os frescos, ao açougue a carne e o peixe, o habitar em grupo — com a ama a moderar a ritmo dos dias, o moço de recados e a lavadeira, auxiliares indispensáveis —, os ritos iniciáticos, os convívios, as ansiedades que precedem os exames, as disputas das conclusões e a apressada preparação (de um dia para o outro) das lições de ponto, a alegria dos graus conseguidos; de permeio, as viagens: a inicial, tímida, para Coimbra, e as outras, no vai e vem das férias. Foram mudando as circunstâncias — que os tempos não são sempre os mesmos — e a
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PRETO É, GALINHA O FEZ? Todos os alunos que passaram pela Academia sabem que o portão do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (UC) é a resposta certa à adivinha tradicionalmente contada em Coimbra «Qual é a coisa, qual é ela, preto é, Galinha o fez?». Com efeito, o magnífico e negro portão é obra de um serralheiro Galinha, assinado numa pequena placa de ferro fundido, onde se lê «M(anuel) B(ernar)des Galinha o fez em Coimbra.» Mas, em boa verdade, qualquer grade ou varanda de ferro, das muitas que existem na cidade e atribuíveis à família de ferreiros de apelido Galinha também podiam ser uma resposta acertada à adi ‑ vinha, se acaso fossem tão pretos e tão conhecidos como o portão do Botânico. A Biblioteca Geral da UC possui também um prelo tipo ‑ gráfico em ferro forjado, adquirido antes de 1874 para imprimir os catálogos de novas aquisições, até agora conhecido como «prelo do Galinha», por ostentar uma placa de bronze onde se lê: «M. Galinha em Coimbra.» Instalado durante d
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Os Gafos e os Estudantes Texto: Vilma Reis Fotografia: Mário Canelas (...) Os estudantes da Universidade de Coimbra recebiam privilégios quando o assunto era encarceramento. Professor da Faculdade de Letras, João Gouveia Monteiro explica que a Universidade gozou, desde o século XIV, de certa autonomia legislativa e judicial conferida pelo Foro Académico, que visava proteger a comunidade universitária outorgando-lhe privilégios variados: “Criou-se uma cadeia exclusiva para esta população, que assim não teria de conviver com outros criminosos no cárcere público. Esta prisão foi reconhecida nos Estatutos de 1591. Ali, puniam-se sobretudo incidentes disciplinares como roubo de livros, conduta inapropriada, questões ideológicas”, resume o historiador. Apesar de detidos, os estudantes eram acompanhados às aulas, de manhã, pela Guarda Real Académica, e regressavam à prisão ao final do dia. A Prisão Académica tinha o poder de deter os estudantes prevaricadores através do seu corpo policial e,
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A primeira estudante brasileira em Coimbra chamava-se América do Sul Nascida no Maranhão, tinha 19 anos quando entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde hoje encontramos a bisneta. Texto: Vilma Reis https://coimbracoolectiva.pt/ Fotografia: Mário Canelas Domitila de Carvalho é um nome incontornável na História das mulheres portuguesas pelo seu pioneirismo no Ensino Superior. Em 1892, tornou-se a primeira aluna da Universidade de Coimbra (UC). Ela com 20 e a academia com 602 anos de idade. Frequentou os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina. Mas enquanto Domitila estudava, ainda sem traje académico que na época era proibido às mulheres, nascia no Brasil outra vanguardista. No dia 30 de julho de 1898, nasce em casa, no Largo do Carmo, em São Luís do Maranhão, a menina América do Sul Fontes Monteiro (sim, isso mesmo). Não existe registo de como foi a vida desta nordestina brasileira até Setembro de 1917 mas, em Outubro desse ano, América assina um documento ond